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Como o impacto social está presente nos modelos de negócios, pesquisas acadêmicas e movimentos da sociedade civil organizada

Entrevista Farm: “Varejo é megafone da responsabilidade social”, diz head de mkt

19/09/2023

Do reuso de tecido na produção à plantação de mil árvores por dia. Da co-criação com uma comunidade indígena, à elaboração de uma embalagem mais sustentável. Do apoio a projetos em comunidades periféricas, ao convite à consumidora para fazer a moda circular. 

As iniciativas em prol da sustentabilidade e do impacto social positivo na Farm são assim: diversas, criativas e impactantes. Qualquer semelhança com as peças de suas belas coleções não é coincidência: afinal, as estampas da marca são inspiradas, sobretudo, na natureza que, não por acaso, é um dos pilares do movimento pela sustentabilidade da marca. Os outros três pilares são: gente, cultura e circularidade.

Recentemente a Farm divulgou o seu terceiro relatório de sustentabilidade. Uma página na internet com um design que foge à regra dos relatórios tradicionais e permite uma experiência de passeio pelas belas histórias de impacto social positivo da marca. 

Entre os destaques do relatório estão o reflorestamento em todos os biomas do Brasil com 1 milhão de árvores plantadas; os 7 milhões de litros d’água economizados com a coleção Re-farm Jens e o investimento de R$800 mil no projeto Re-Farm Cria, que apoia projetos criativos em territórios periféricos de capitais brasileiras.

Outro destaque são os quase 7 anos de parceria com as mulheres Yawanawas, que levou à criação de uma linha com estampas inspiradas no trabalho artesanal que elas fazem com miçangas. A Farm destina 8% de royalties da venda da linha ao Instituto Sociambietal (ISA), que trabalha junto ao povo da aldeia, no Acre.

Para falar mais sobre essas ações, o VAREJO COM CAUSA conversou com o head de marketing da Farm, Diego Francisco. Confira:


Muitas das iniciativas da Farm têm relação com a natureza. Por que o meio ambiente é tão importante na estratégia de ESG da Farm?

Quem conhece nossas estampas vê que a natureza é o lugar que a gente mais se inspira. A natureza faz parte da nossa rotina, ela está nas nossas estampas, lojas, escritórios que sempre têm cantinhos de natureza. Quando começamos o movimento de sustentabilidade na marca, há 7 anos, elegemos alguns pilares da sustentabilidade, que são: gente, cultura, circularidade e natureza. Nós criamos os pilares para que pudéssemos construir ações conectadas a eles. E isso também nos ajudaria a medir o progresso e a entender o impacto e a amplitude das nossas ações. Por isso, tantas ações que envolvem a natureza, como, por exemplo, o projeto 1000 árvores por dia, que levou a Farm para todos os biomas no Brasil reflorestando. No ano que vem a gente chega à marca de meio milhão de árvores plantadas só na Amazônia. Dentro desse programa a gente planta com parceiros, mas também no processo de agrofloresta. Então não é só o plantio, é também o cuidado com o solo, a garantia de subsistência, garantindo trabalho e levando comida pra mesa.

 

Como a Farm se organiza para ter uma produção mais sustentável, seja no uso de matéria-prima ou nos processos produtivos?

Quando a gente começou a estabelecer nossas metas de sustentabilidade, partimos do zero e a ideia era construir passo a passo até que a gente tivesse muito orgulho do que a gente estava fazendo. Temos ações de circularidade e posso destacar as coleções Re-farm, que são coleções feitas a partir do reaproveitamento do nosso tecido. Por exemplo, a gente tem um jeans sustentável, que economiza água no processo produtivo, que usa menos tintura e que usa sobra de tecido. Além disso, nossos fornecedores são certificados e a gente busca cada vez mais usar matéria-prima certificada. Temos uma porcentagem de ecovero na nossa viscose. A gente tem o desafio de avançar, mas hoje a Farm não coloca uma coleção na rua sem que ela tenha ao menos 40% de matéria prima sustentável. A Farm também neutraliza o seu carbono e já estamos saindo do espaço de compensação para ir pra zero emissão de carbono. É um processo que é de longo prazo, mas a gente vê o impacto e, hoje, se orgulha dele.

 

Vocês também têm ações que pensam no impacto para além do processo produtivo, por exemplo no transporte da mercadoria. Você pode comentar mais sobre essa iniciativa e por que a FARM está investindo nisso?

A Farm vem trabalhando dentro da sua frota de entregas, caminhando para uma frota elétrica. Também fizemos um trabalho muito importante de redução das nossas embalagens. Quem é cliente há mais tempo lembra da caixa quadradinha da Farm, mas ela  ocupava mais espaço, então gerava mais viagens para fazer entregas, gastando mais combustível e gerando mais emissão de CO2. A gente mudou essa embalagem, pensando em como ela poderia continuar sendo encantadora, mas ao mesmo tempo colaborar com o impacto positivo. Hoje, elas são feitas de material reciclável e tem outro formato, que permite que ela ocupe menos espaço, chegue mais rápido, economize combustível e diminua a emissão de CO2.

 

Como a FARM trabalha o tema da circularidade? Você pode trazer exemplos práticos dessa agenda na empresa?

A circularidade pra gente é esse espaço de promoção da maior vida útil possível do produto, desde matéria prima até produto final. E como a gente garante que a peça é durável? Temos muitas ações, que vão desde o processo produtivo, com reaproveitamento de tecido nas coleções Re-Farm, passando pela doação de tecido para uma rede de mulheres costureiras e também temos um banco de tecidos. Então essa matéria prima não é descartada e continua cumprindo outras funções para outras pessoas e espaços. Pensando a circularidade na relação com o cliente temos a parceria com a plataforma de vendas de peças usadas, Enjoei. A cliente pode deixar sua peça usada na loja e essa peça vai pro Enjoei. é vendida e a cliente ganha desconto em peças na nova coleção. 


Nesse caso da parceria com o Enjoei você convida seu cliente a fazer parte desse movimento. Por que isso é importante?

A gente tem processos de circularidade no Brasil que ainda estão distantes da vida cotidiana das pessoas. Por outro lado, as consequências (de não cuidar do planeta)  trazem emergências reais e que impactam a vida de todos. A questão é que no Brasil muitas pessoas ainda não enxergam o problema. Então, faz toda a diferença mobilizar os clientes. O nosso movimento é de evolução e de aprendizado e, cada vez mais, a gente quer tocar esse movimento não sozinhos como marca, mas também com nosso cliente. Se a gente está aprendendo, a gente quer levar todo mundo pra aprender junto.


A Farm também tem uma ação super reconhecida que é a linha Yawanawa. Como ela consegue gerar diferentes tipos de impacto positivo? 

A parceria com os Yawanawas está fazendo 7 anos e é um projeto 360 graus porque gera diferentes impactos. Nesse projeto temos não apenas a inspiração das estampas, que é um trabalho de co-criação, mas também um trabalho organizativo da autogestão das mulheres Yawanawas. Então, elas se organizaram em cooperativa e transformaram a arte delas, que era produzida de modo não estruturado. E quando digo não estruturado é em relação ao impacto que elas também desejavam. 

A Farm chega, então, para colaborar com um processo de estruturação que elas já desejavam. Com essa parceria a gente ajuda na circulação dessa identidade do produto delas que é lindo e fascinante. Também ajudamos nesse processo de auto organização no território, de forma que o recurso chega e fica lá. A parceria também ajuda a fortalecer o protagonismo dessas mulheres dentro do território, pois elas passam a ter dinheiro, autonomia, passam a ter mais autoestima e se reconhecem como detentoras dos seus saberes e da sua cultura, pois veem seu trabalho ser reconhecido internacionalmente. Então é um projeto que tem muitos impactos, que vão além da roupa.

Nessa mesma linha de apoio a atores da economia criativa, vocês têm o Re-Farm Cria. Como esse projeto tem gerado impacto a outras comunidades?

Criamos o Re-Farm em 2021 e já destinamos mais de R$1 milhão pra ele. Criamos chamadas criativas para elaboração e execução de projetos sociais em territórios periféricos das capitais no Brasil. Na primeira edição tivemos 81 iniciativas, que estavam dentro das áreas: equidade, educação, cultura e moda. Neste ano acabamos de premiar 20 iniciativas no Brasil no pilar da moda. Cada uma delas recebeu um prêmio de R$25 mil para desenvolver seus projetos, que vão desde desenvolvimento de matéria prima até desenvolvimento de coleções. E esse projeto nos dá muito orgulho porque amplia a conexão da Farm com pessoas que a gente não conseguia se conectar.

Você pode comentar a importância de uma marca como a Farm apoiar propostas já existentes (em vez de, por exemplo, só fazer projetos proprietários)?

Isso é muito importante e temos visto como a gente consegue ampliar esse espaço pra estarmos com essas pessoas. Eu venho de uma perspectiva na minha história de conexão com movimentos sociais, cresci numa favela do Rio de Janeiro, então entendo muito a importância de se investir territorialmente. A Farm fica muito feliz de ver essas iniciativas nascendo e se mantendo, até porque a gente não vai ter sempre a resposta para questões do território, para organização do saber. Já tem gente lá fazendo e a gente quer potencializar essas vozes, esses atores e atrizes.

Como o varejo pode impactar o mundo positivamente?

A gente acredita no poder de megafone que é ser uma marca do varejo brasileiro, mas também sabemos da nossa responsabilidade. O varejo faz parte da vida das pessoas como raríssimas outras áreas conseguem. É claro que a indústria faz parte da vida delas, mas é no varejo que elas se comunicam. O varejo pode usar esse poder de megafone para se comunicar, educar e construir um relacionamento que tenha como base ser responsável, sustentável e diverso. Na Farm a gente faz isso quando o cliente compra no e-commerce e recebe sementes do 1000 árvores por dia para que ele faça parte disso com a gente. Ou quando ele entra numa loja e é impactado por uma comunicação. Tudo isso faz com que o cliente se eduque sobre sustentabilidade. Olha a responsabilidade que é isso: ser o primeiro contato de muitas pessoas sobre um tema tão importante pros nossos dias.

 

Texto: Thaíne Belissa

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