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Hub impulsiona economia criativa no Nordeste e leva renda a artesãos

11/09/2023

O artesanato em barro, a  renda de bilro, os artigos de couro típicos do sertanejo, os murais de xilogravura. A arte nordestina tão conhecida das feirinhas e ateliês no calçadão da praia, ganha, cada vez mais, espaço no cenário nacional da economia criativa. E foi para impulsionar esse movimento que surgiu o Nordestesse, um hub que reúne marcas de empreendedores do Nordeste nas áreas de moda, design, artes visuais, gastronomia e turismo. 

Daniela FalcãoCriada pela jornalista Daniela Falcão, que trabalhou por 15 anos com cobertura de moda e foi editora-chefe da Vogue, o hub nasceu a partir da percepção de sua criadora de que ainda faltavam pontes aos empreendedores da economia criativa no Nordeste. “Me mudei para Recife na pandemia e comecei a divulgar alguns desses trabalhos na minha própria rede. Quando vi que meus posts já causavam um grande impacto a ponto de o produto ficar esgotado, decidi que era essa minha missão: fomentar o trabalho desses criadores”, conta.

O hub reúne, hoje, 180 marcas que dialogam com os saberes ancestrais do nordeste e imprimem uma visão contemporânea em suas peças com um toque autoral. No Nordestesse, os empreendedores recebem consultoria que os ajuda a projetar a marca e alcançar um público mais diverso, preservando as características locais dos seus produtos, mas também se aproximando de um público mais amplo. Esse equilíbrio é possível seja na simples forma de apresentação da embalagem ou pela proposta do produto. Um exemplo é o chimichuri de ervas nordestinas, um dos itens que fazem parte do portfólio do hub.

Por meio do Nordestesse, os empreendedores também conseguem chegar a muito mais clientes, seja em exposições em eventos nacionais ou em parcerias com marketplaces, como Magazine Luiza e C&A, que já fizeram parceria com o hub. Para Daniela, as parcerias com grandes marcas do varejo têm sido um processo de “educação digital” e gerado grande aprendizado tanto para os empreendedores, quanto para os marketplaces. 

Impacto social 

Daniela destaca que os empreendedores que fazem parte do hub mobilizam uma cadeia de artesãos em seus estados e, na medida que os produtos ganham valor agregado, levam ainda mais renda às suas comunidades.  “Ao conseguirem fazer o produto ter mais valor agregado por ser autoral, esses empreendedores acabam gerando um impacto econômico importante e ainda têm um papel fundamental, que é a preservação desses ofícios, que passam a ser mais valorizados”, afirma.

A empresária também destaca a importância do fomento da economia criativa no Nordeste, lembrando que esse é um mercado de trabalho alternativo para aqueles que foram excluídos do emprego formal.

“Ao valorizar essas áreas, tornamos mais nobre e digno o ofício que, muitas vezes, é única alternativa para quem não se enquadra no mercado formal com tanta facilidade”, ressalta. Ela lembra que, na cadeia artesanal, a força de trabalho é majoritariamente de mulheres, de maneira que a ação do hub também tem esse papel importante de impulsionar a mão de obra feminina.

Responsabilidade social e ambiental

Além de produtos autorais e que preservem os saberes nordestinos, as marcas que compõem o Nordestesse também precisam ter responsabilidade social e ambiental, segundo Daniela Falcão. “Essa é uma questão importante na nossa seleção, mas é muito interessante perceber como isso é mais natural no nordeste porque as marcas vêm de uma situação de escassez, então já nascem com uma lógica de produção sustentável. Afinal, quem não tem, não desperdiça”, afirma.

Um exemplo é a marca Açude, do Ceará, que usa em sua produção cores de tecidos que estão encalhados nas tecelagens por não serem vendidos. A marca não segue o pantalone de tendência e faz peças lindas com essas cores de tecidos desprezados e que seriam incinerados se não fossem comprados.

Outro exemplo de marca que faz parte do Nordestesse e que é um case de destaque em responsabilidade social é a Catarina Mina, que também é do Ceará e é especializada em roupas e bolsas. Ela foi uma das primeiras marcas a abrir seus custos, mostrando o preço que paga à sua cadeia de artesãs, além de incluir um QR code nas peças com o nome das artesãs que fizeram parte do processo. 

“A marca também só aceita depositar o pagamento nas contas pessoais das artesãs, justamente para garantir que o dinheiro chegue e dê autonomia a elas. Era comum elas usarem as contas dos maridos ou outra pessoa da família e, muitas vezes, o dinheiro nunca chegava a elas. Essa exigência da marca gerou um boom de aberturas de contas  na região”, conta Daniela. 

Texto: Thaíne Belissa

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