Pense em Riachuelo e provavelmente você pensará em roupas. É natural: uma das maiores varejistas de moda no Brasil não poderia ser lembrada de outra forma, senão pelo seu produto que está no dia a dia dos consumidores.
Mas, o que muita gente não sabe é que, quando foi criada há 75 anos, a Riachuelo tinha um objetivo que ia além do acesso à moda no Brasil. O fundador, Nevaldo Rocha, tinha o sonho de gerar oportunidade de emprego e renda para as pessoas de sua comunidade no Rio Grande do Norte. E foi baseado no legado dele, que a Riachuelo manteve, nas últimas sete décadas, uma cultura de impacto social positivo, transformando moda em oportunidades no nordeste brasileiro.
“Está na cultura da Riachuelo porque foi a forma como a marca nasceu. Aos 12 anos meu avô Nevaldo saiu de um lugar afastado de tudo em busca de uma vida melhor. E foi dada uma oportunidade a ele. Ele só começou por causa dessa oportunidade, então ele queria fazer o mesmo por outras pessoas. Ele falou sobre isso a vida toda e acabou gerando mais de 40 mil empregos”, afirma Marcella Kanner, Head de Comunicação Corporativa e Marca da Riachuelo.
Ela explica que justamente por essa missão, a Riachuelo seguiu um caminho diferente de outras marcas do setor que trabalham com confecções terceirizadas. A Riachuelo construiu sua própria indústria para ampliar as possibilidades de emprego no sertão nordestino, berço do fundador.
“Hoje se fala muito sobre a importância de se ter controle sobre sua cadeia, mas na época não havia esse entendimento. Mesmo assim, essa era uma questão que meu avô nunca questionou: sempre manteve a indústria porque queria gerar emprego”, relata Marcella.
Há dois anos a varejista deu mais um passo em direção ao sonho de seu fundador com a criação do Instituto Riachuelo. Com o propósito de transformar vidas por meio da geração de trabalho e renda, o instituto impacta cerca de 250 pequenos e médios empreendedores, beneficiando indiretamente 50 mil pessoas.
A organização desenvolve ações em cinco pilares: empreendedorismo e desenvolvimento da comunidade; educação e capacitação profissional; economia de reciclagem têxtil em circuito fechado; doações; e saúde e bem-estar.
Um Polo têxtil no Sertão
Entre as diversas ações do Instituto Riachuelo, Marcella Kanner chama atenção para as oficinas de costura, realizadas por meio do Pró-Sertão, programa de incentivo à geração de empregos no semiárido do Rio Grande do Norte. A Riachuelo é parceira da iniciativa, contribuindo com a formação dos alunos por meio da tecnologia social do Sebrae de encadeamento produtivo. O instituto traz capacitação tanto sobre o processo produtivo, como sobre gestão de pessoas e gestão financeira. Hoje são mais de 100 oficinas e 4 mil pessoas empregadas.
“A cadeia da moda tem áreas que precisam de muito investimento, como maquinário, mas outras em que a estrutura é mais simples, como essa parte da costura. É uma atividade que não precisa de água, o que é perfeito para o sertão, e que pode ser muito produtiva com uma fábrica pequena de 30 pessoas. Nosso objetivo é fortalecer a atividade na região para que ela ganhe força e vire um polo têxtil referência no Brasil”, afirma Marcella.
Além das oficinas de costura, o Instituto Riachuelo lança olhar para as famílias agricultoras na região do Seridó, interior do Rio Grande do Norte. Por meio de uma parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o instituto promove a cultura do algodão agroecológico, que é cultivado sem agroquímicos e plantado em consórcios agroalimentares.
Por meio desse programa, as famílias agricultoras passaram a intercalar o cultivo do algodão com outras culturas, como milho, gergelim, feijão e palma. A expectativa é que, no período de dois anos, a produção chegue a 17 toneladas de algodão pluma, gerando ganhos financeiros de aproximadamente R$ 500 mil no período.
“Gerar impacto social positivo é responsabilidade de todos, principalmente da iniciativa privada, que tem obrigação de olhar para as comunidades em seu entorno. Quando a gente pensa na cadeia da moda, que é extensa e toca a vida de muitas pessoas, imaginamos inúmeras oportunidades para gerar transformação. Entendemos que só podemos prosperar, levando outros agentes da cadeia junto: é a única forma de seguir tendo um planeta”, afirma Marcella.
Texto: Thaíne Belissa