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IA e filantropia: como o Chat GPT pode ajudar o terceiro setor?

17/08/2023

Quando o Chat GPT foi lançado, em novembro de 2022, o mundo dos negócios viveu uma grande agitação por motivos óbvios. Uma inteligência artificial generativa, ou seja, que é capaz de interpretar dados, responder perguntas e produzir conteúdo criativo, tem um potencial imenso de mudar a forma como as coisas são feitas. Menos de um ano depois o mercado viveu novo alvoroço, em maio de 2023, com a liberação do Bard, a tecnologia concorrente do Chat GPT, que pertence ao Google. 

Que as novas tecnologias vão alterar as relações de negócios não há dúvidas, mas como essas mudanças também chegarão a outros setores que não estão ligados diretamente à produção de riquezas? E como essas inteligências podem ajudar organizações que trabalham com filantropia?

Para a futurologista, Ligia Zotini, tecnologias como o Chat GPT são um “recado universal” de que, agora, as mudanças não virão mais em degraus, mas em saltos. E essas mudanças chegarão a todos em algum momento.

“É difícil fazer uma análise sobre IA no terceiro setor porque, na verdade, esse segmento reúne muitas áreas. Em saúde, por exemplo, podemos falar do uso de IA em diagnósticos, na área de direito pensamos em análises de previsibilidade em ganhos de causa, na construção civil é possível falar em projetos de arquitetura construídos com a ajuda de robôs. As aplicabilidades que a IA tem na indústria com fins lucrativos também podem ser pensadas para o terceiro setor. A diferença é que as organizações filantrópicas não costumam estar na vanguarda dessas inovações, nem ficam testando o que está na versão beta. Mas, quando as tecnologias estiverem maduras, a adoção vai ser rápida”, afirma.

Um exemplo de uma organização filantrópica que está atenta ao assunto é a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale). De acordo com Catherine Moura, que é médica sanitarista e CEO da Abrale, a organização vê com grande entusiasmo as experiências concretas sobre como a inteligência artificial pode otimizar recursos e ampliar acessos, como por exemplo em áreas remotas que têm restrita oferta de profissionais de saúde especializados.

“Somos a favor da evolução tecnológica e suas aplicações para transformações que podem ajudar, sobretudo, na velocidade e precisão na triagem de doenças e diagnóstico precoce dos cânceres; melhorar a qualidade do atendimento clínico em si; colaborar nas pesquisas clínicas e até no desenvolvimento de medicamentos”, afirma.

Usos do Chat GPT 

Se, por um lado, algumas aplicações de IA ainda parecem um pouco distantes, por outro, o uso de ferramentas como Chat GPT estão bem mais próximos do dia a dia das organizações. O Chat GPT já está em sua terceira versão e pode ser usado gratuitamente.

Sobre os possíveis usos da IA generativa no setor filantrópico, o próprio Chat GPT faz algumas sugestões. Em resposta à pergunta “como o Chat GPT pode auxiliar o setor de filantropia”, ele sugeriu a análise de dados para fornecer insights sobre tendências, padrões e desafios enfrentados pelo setor.

Além disso, como qualquer outra organização que tem seus desafios internos, as instituições do terceiro setor podem usar a inteligência artificial em ações de rotina, como conteúdo para as redes sociais; criação de job descriptions para processos seletivos e suporte de briefing para desenho de novos projetos.

Para Ligia Zotini, os usos do Chat GPT no terceiro setor ainda são mais limitados à produção de textos. Um exemplo trazido por ela nesse sentido é o conteúdo de um e-mail de agradecimento a doadores. “O Chat GPT pode ser usado para ajustar um discurso, de acordo com o tom de diferentes personas. Dessa forma, a organização produz um conteúdo que fica mais próximo das pessoas com quem quer falar”, sugere.

A mesma aplicação sugere Diogo Cortiz, que é cientista cognitivo, professor da PUC SP e pesquisador do NIC.br. Ele afirma que a inteligência artificial generativa pode ser usada para a construção de diversos conteúdos nas organizações filantrópicas, como por exemplo uma proposta de arrecadação de fundos para um projeto específico. 

“O Chat GPT pode ser muito útil para trazer insights e gerar as primeiras versões de textos. Por outro lado, é importante lembrar que se trata de uma ferramenta poderosa que sabe manusear bem as palavras, mas não é um repositório de conhecimento. Então tem que ter muito cuidado na hora de receber as respostas. O mais importante é que sempre tenha uma pessoa especialista para avaliar se aquela resposta faz sentido ou não”, alerta.

Exatamente o que tem acontecido na Abrale. Segundo Catherine, a organização tem estudado usos do Chat GPT, mas com muito cuidado, uma vez que todo o conteúdo produzido precisa ser pautado em evidências científicas. 

“Temos feito testes para entender como a ferramenta pode ser útil em nossos pilares de atuação, que são apoio ao paciente, educação e informação, políticas públicas e advocacy, e pesquisa e monitoramento de dados. Embora o sistema ofereça soluções inovadoras, ainda vemos com cautela alguns pontos essenciais. Por exemplo, pensando especificamente na construção de conteúdos voltados ao nosso público, os pacientes, ainda optamos por nos orientar em evidências técnico-científicas e escutar os especialistas do setor, que fazem parte do nosso Comitê Médico e Multiprofissional”, pondera.

Texto: Thaíne Belissa

 

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