Se inovar é fazer algo que já existe de maneira diferente, a marca de roupa íntima Pantys é um exemplo de inovação para a diversidade. Especializada em produtos menstruais, a marca inova para incluir, fazendo releituras dos produtos que estão em seu portfólio e os transformando em peças que são, de fato, para todos.
De acordo com uma das fundadoras da Pantys, Emily Ewell, a empresa tem a cultura de co-criação de seus produtos. Isso significa que, antes de começar uma nova produção, a marca ouve a comunidade. E é desse processo que surgem as inovações contextualizadas às necessidades reais das diferentes pessoas.
Foi assim, por exemplo, que surgiram as linhas de cuecas e moda praia para homens trans que menstruam. De acordo com Emily, essa foi uma demanda que chegou da sociedade e desse público que tinha dificuldade de encontrar soluções confortáveis e mais adequadas para o período menstrual.
“A gente acredita que a sociedade está sempre à frente da marca. Existem duas maneiras de uma empresa reagir à comunidade: ela pode resistir achando que sabe mais ou incluir entendendo que ela sabe mais. Nós ficamos com a segunda opção porque entendemos que a sociedade pode nos dizer o que podemos fazer melhor como marca”, afirma.
Além das cuecas para homens trans, a Pantys também oferece em seu portfólio a linha Easy, que é direcionada às pessoas com deficiência física ou dificuldade de locomoção. Nessa linha, as calcinhas têm um sistema de abertura na lateral, que facilita o vestir de forma autônoma. A marca também tem a linha Naked com calcinhas com cores diversas que imitam os diferentes tons de pele, além da linha Wonderful, ideal para quem veste do 52 ao 68.
Maria Eduarda, co-fundadora da Pantys, destaca que a marca leva a sério a diversidade, indo além do discurso e trazendo o tema para o centro da estratégia, mesmo que isso nem sempre signifique aumento dos lucros. “Muitas empresas pensam: será que esse é um produto que tem escala? Será que vai me dar retorno? E aqui não é bem assim. É claro que a gente faz planejamento, mas a demanda menor não precisa nos impedir de lançar produtos que vão fazer a diferença”, diz
E completa: “Não existe crescimento sustentável se a inclusão for só na comunicação, mas não no portfólio ou nos processos da empresa. O consumidor sabe quando a marca faz só para se posicionar ou se está no DNA dela. Da mesma forma, quem trabalha na empresa: quando o posicionamento é genuíno, as pessoas se engajam porque sentem que fazem parte desse movimento”.
Ativismo contra pobreza menstrual
A inclusão também está presente na estratégia da Pantys de combate à pobreza menstrual. Emily destaca que, se por um lado a marca vê grande potencial de mercado para os produtos menstruais, por outro reconhece o triste cenário de pobreza menstrual, que é inclusive citado no relatório de sustentabilidade de 2022 da marca. De acordo com o relatório, 550 milhões de pessoas não têm acesso a produtos menstruais (dados da ONU). No Brasil essa pobreza menstrual atinge 1 a cada 4 jovens.
Em 2022, a Pantys doou mais R$320 mil em itens de higiene menstrual e realizou uma campanha de conscientização sobre o tema que alcançou 68 milhões de pessoas. Também lançou o manifesto #PantysProtest, que propõe um plano nacional focado em acabar com a pobreza menstrual no Brasil até 2030. O plano articula diversas áreas: governos, empresas, organizações não governamentais e a sociedade civil.
“Existe muitas conversa sobre distribuição de produtos menstruais, mas pouca ação. Estamos tentando fazer nossa parte para que isso realmente chegue nas mãos das pessoas que precisam”, afirma Emily. Para Maria Eduarda, o posicionamento das empresas é essencial para gerar transformação social. “Todas as marcas deveriam ser mais ativistas. As empresas, os governos e a comunidade não podem trabalhar separadamente, esse é um trabalho em conjunto”, frisa.