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Dados em ESG serão essenciais para atrair investidor, afirma head de sustentabilidade da B3

20/12/2023

Depois de um ano com eventos climáticos extremos e uma Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) histórica com um documento global para orientar líderes na redução de gases de efeito estufa, o mundo olha com muito mais atenção para o tema da sustentabilidade. Entre os líderes corporativos no Brasil, a preocupação também aumenta e inicia-se uma nova corrida para se adaptar ao padrão de reporte global em ESG, exigido pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a partir de 2026. 

Para o head de sustentabilidade da B3, Cesar Sanches, o cenário traz desafios, mas também muitas oportunidades, principalmente para as empresas que souberem usar seus dados para prestar contas. Em entrevista ao VAREJO COM CAUSA, o executivo comenta os aprendizados da COP28 e aponta caminhos para o futuro do ESG nas corporações.

Quais suas impressões da COP28 e como você espera que ela influencie a postura dos governos e líderes na busca por uma economia global mais sustentável?

A COP28 terminou com um acordo com uma chamada para todos os países envolvidos, que eu acho que é um sinal importante para a economia global de que governos e líderes vão tentar acelerar a transição Net-Zero. Acho que a COP28 foi muito importante, uma das mais significativas em relação à aceleração desses processos. Mas, essa transição vai exigir algumas centenas de bilhões de dólares em investimentos. E só pra te dar uma ideia de números: disponível em Bolsa hoje no mundo temos algo em torno de US$130 trilhões, sendo que um terço disso tem alguma relação com ESG. Acredito que agora é o momento de ação coletiva para uma mudança radical no financiamento da transição. Mudanças climáticas, poluição, perda da biodiversidade são grandes desafios, mas também podem ser grandes oportunidades de investimento que trazem uma transição justa. 

Quais oportunidades você enxerga para o contexto do Brasil?

As oportunidades para o Brasil são gigantescas. Eu sou um fã do Brasil e acho que o país tem um capital natural enorme e pode ser líder em áreas como energia eólica, energia solar, metais verdes, hidrogênio verde e mercado de carbono. Estamos falando de oportunidades que podem gerar centenas de bilhões de dólares adicionais ao PIB. E existe uma expectativa no mundo que o Brasil lidere essa agenda. Na COP eu vi isso, diversos painéis citando o Brasil, então é um momento muito interessante e, se a gente souber como nação fazer os investimentos, pode ser algo extremamente benéfico para o país.

E quem serão os responsáveis por fazer esses investimentos? 

Existe uma massa crítica de profissionais em diversas organizações que já entendem que sustentabilidade é importante. Eles não precisam ser especialistas, mas devem perguntar: o que eu faço? Como eu contribuo como CEO, CFO, analista, engenheiro ou advogado? Qual o meu papel? Precisamos construir colaborações porque a gente não vai conseguir fazer nada sozinho, precisamos dos governos, empresas, investidores, bancos, universidades e todos os stakeholders em torno do tema.

Entre os líderes de empresas, a preocupação também está em atender as expectativas dos investidores em torno do tema do ESG. Quais são essas expectativas?

No meio ambiente, a preocupação principal é com o clima: os investidores querem entender como as empresas estão se preparando para o futuro e pensando essa transição Net-Zero. Também estão olhando o social para que isso seja feito de forma justa e sem deixar ninguém para trás. Também olham para a governança em diversos aspectos: conselhos, remuneração, estrutura. Mas um ponto especificamente na América Latina que eles perguntam muito é sobre a diversidade dos conselheiros: qual a experiência deles e porque estão lá. Eles querem saber como aqueles conselheiros vão ajudar as empresas a abordarem esses desafios que comentamos.

E como as corporações vão mostrar que estão preparadas?

No mundo das bolsas, os dados serão extremamente importantes. As empresas terão que pensar em como melhorar o reporte, lembrando que no Brasil a CVM tornou obrigatório para 2026 o reporte com padrão global. As empresas precisam entender qual o lugar delas dentro desse novo contexto, descobrir em que aspecto podem ser mais atuantes e o que precisam fazer para esse futuro com mais diversidade, mitigação do impacto ambiental e governança. A Bolsa tem diversos papéis e um deles é facilitar o fluxo de capital sustentável em escala para os projetos em linha com os ODS da ONU. E os investidores vão preferir esse tipo de investimento por causa de aspectos que as bolsas já têm estabelecidos: transparência, segurança, liquidez, acesso à informação. Então, existe oportunidade de investimento sim, mas as empresas precisam ficar atentas a essa questão dos dados e da transparência da governança.

Texto: Thaíne Belissa

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