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Entrevista: Vanessa Braga, do Instituto Mário Penna fala como o varejo forma doador perene

04/09/2023

Localizado em Belo Horizonte, o Instituto Mário Penna é uma instituição filantrópica especializada em tratamento contra o câncer e o maior prestador de serviço oncológico no estado de Minas Gerais no atendimento SUS. São mais de 320 mil atendimentos, 37 mil sessões de quimioterapia e mais de 40 mil sessões de radioterapia realizadas mensalmente com atendimento 100% gratuito.

Com 52 anos de história, o instituto é subsidiado por doações, que são captadas de diferentes formas: doações diretas, produtos sociais, troco solidário, entre outras. Para falar sobre o desafio dessa captação e a importância da parceria com o varejo, o VAREJO COM CAUSA convidou a Coordenadora do Núcleo de Gestão de Doações do Instituto Mário Penna, Vanessa Braga, para uma entrevista. Confira: 

 

Você pode trazer um pouco de contexto e um pequeno resumo sobre o Instituto Mário Penna, explicando sua forma de atuação?

O Instituto Mario Pena é uma instituição filantrópica de saúde, especializada em tratamento contra o câncer e há 52 anos vem assistindo os pacientes com câncer em Minas Gerais. Ele é composto pelo Hospital Luxemburgo; pelo Núcleo de Especialidades Oncológicas, pela casa de apoio Beatriz Ferraz, que acolhe todos os pacientes que vêm do interior; pelo Núcleo de Ensino de Pesquisa e pelo Núcleo de Excelência em Saúde.

Como somos filantrópicos, sobrevivemos de doações. Temos uma rede de doadores que nos apoiam, que nos ajudam a suprir o déficit operacional que hoje é de R$ 7 milhões por mês. É com esse apoio que a gente consegue manter a excelência no atendimento, ajudar na compra de medicamentos, manutenção de equipamentos e melhorias internas.

Uma das formas de arrecadação de doação no instituto é a parceria com o varejo, por meio do Troco Solidário. Você pode explicar como ele funciona?

Trabalhamos com parceiros principalmente no varejo que entendem sua responsabilidade social e permitem que a gente utilize a marca dentro dos estabelecimentos e tenha uma conexão com os seus clientes. E como isso acontece? Através de uma pergunta simples do operador de caixa, que é: “Você deseja doar seu troco para o Instituto Mário Penna?”.  E cada cliente que doa, vai gerando um acumulado de doações, que é repassado integralmente ao Instituto.

Nossa parceria mais antiga é com as Lojas Rede, que está há 14 anos nos apoiando com o Troco Solidário. Também temos a parceria com os Supermercados BH, que hoje tem o maior alcance por causa do número de lojas, da presença na capital, região metropolitana e interior de Minas Gerais. Além do Supermercado Verdemar, dos Correios e da DrogaClara. O Troco Solidário é um projeto muito importante e que hoje nos ajuda a arrecadar cerca de R$520 mil por mês.

E como é essa relação entre o Instituto e o varejo? Há uma fase de treinamento da equipe e um processo para monitoramento da captação?

A gente acompanha através de relatórios de tudo o que foi arrecadado em cada loja. Fazemos visitas nas lojas para treinar os operadores de caixa e sensibilizar os funcionários sobre o trabalho do Instituto, até porque o cliente pode querer fazer mais perguntas. Quando o colaborador entra na empresa, já recebe todas as informações sobre o Instituto Mário Penna e a formação sobre como fazer a doação do troco. Nós participamos desse treinamento inicial e, depois, temos uma equipe de promotores que visitam as lojas mensalmente. Esses promotores fazem novas orientações, trazem vídeos de sensibilização, convidam para a visita física ou virtual ao Instituto.

Isso é importante porque se o operador de caixa não nos conhece bem, fica difícil ele passar segurança para o cliente. Entendemos que ao conhecer e perceber a importância desse trabalho, o funcionário vai manter o projeto e educar o cliente, mostrando como aquele pequeno troco ajuda a salvar milhares de vidas. Como prestação de contas usamos banners nas próprias lojas pra dizer quanto foi arrecadado e o investimento realizado dentro do Instituto.

Qual a importância de incluir o varejo na estratégia de captação de doação?

O varejo nos conecta a novos doadores e nos mantém em contato com eles. Além disso, o varejo permite que seus clientes se tornem doadores recorrentes e aumenta a credibilidade do trabalho da organização social. O varejo impulsiona as doações por meio do seu contato, abertura e alcance, que são verdadeiras potências. Nós também temos um trabalho de arrecadação de doação direta com pessoas, mas o varejo nos dá acesso a um outro perfil de doador, que acaba se tornando frequente.

O Instituto também tem experiência com produto social, como a agenda Mário Penna. Você pode comentar sobre essa outra forma de captação? 

A ação da agenda foi muito interessante porque, além de trazer a receita e transformar clientes em doadores, ela aproxima as pessoas da instituição. Isso porque dentro da agenda temos uma prestação de contas, conseguimos trazer mais informações sobre nossas campanhas de prevenção, sobre nossas unidades e parcerias. Ela foi vendida nos supermercados e já gerou R$169 mil de receita em 2023. 

Você pode citar outros cases de sucesso de formas criativas de captação de doação no Instituto Mário Penna?

Temos também o Cofrinho do Bem, que é vendido hoje pelo próprio Instituto, seja nas nossas unidades, no nosso site ou nos eventos que participamos. A arrecadação acontece tanto no valor de compra do cofrinho, como no valor depositado nele. Porque tem o momento de trazer de volta o cofrinho cheio para doação, o que é muito legal. É um momento interessante porque as pessoas vêm à instituição e isso ajuda nesse conhecimento do Instituto. É muito comum as pessoas comprarem esse cofrinho e darem para crianças, que já têm essa cultura de guardar moedas e que são duplamente educadas na educação financeira e na cultura da doação. 

Temos algumas pesquisas que mostram que o brasileiro ainda tem uma visão carregada de desconfiança em relação às instituições do terceiro setor. O que ainda precisa ser feito para mudar esse cenário?

A sociedade precisa ser educada. O conhecimento sobre o universo da filantropia não é consolidado e, na medida que temos grandes empresas apoiando o terceiro setor com projetos, isso vai educando os clientes a entenderem, conhecerem e abraçarem uma causa. A gente sempre vai ao supermercado e, se cada vez que a gente for, nós fizermos uma doação, essa ação acaba se tornando perene.

E da parte das instituições e das empresas parceiras, a transparência é muito importante para mostrar o valor arrecadado, como foi investido, quantos pacientes atendidos. Esse mecanismo de prestação de contas ajuda a mostrar como essas doações são importantes e a combater esse preconceito que ainda existe em relação às organizações sociais.

Como as empresas podem fazer parceria com o Instituto Mário Penna?

Pra gente é muito importante ter cada vez mais parceiros com essa responsabilidade social porque nosso desafio é muito grande. Toda parceria feita ajuda a salvar vidas. Nossos canais de atendimento são: 3299-9502, 0800-039-14-41 (Whatsapp) ou doacao@mariopenna.org.br 

 

Texto: Thaíne Belissa

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