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Falta diversidade entre decisores do ISP, aponta Censo GIFE 22-23

19/12/2023

Realizado pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) — referência nacional em fortalecimento da filantropia — o Censo GIFE 22-23 mostrou que a decisão sobre alocação do investimento social privado (ISP) no Brasil ainda é feita por um grupo pouco representativo da sociedade civil e, muitas vezes, distante dos territórios que são alvo desse investimento.

O relatório mostrou que os conselhos deliberativos – que são instâncias decisórias relevantes do ISP – ainda estão distantes da equidade de gênero e raça. Mais da metade (66%) dos dos conselheiros das organizações são homens e apenas 1% são pessoas não binárias. A estimativa do GIFE é que serão necessários cerca de 20 anos para que haja paridade entre homens e mulheres na composição dos conselhos deliberativos. 

O censo também aponta a baixa representatividade de raça na composição dos conselhos. Entre os conselheiros mapeados na pesquisa, 92% são brancos, 7% são negros, 1% amarelos/orientais e há apenas uma pessoa indígena. 

Outro dado que chama a atenção no censo é o crescimento da  participação das principais lideranças de empresas (CEO ou diretores-presidentes) nas decisões sobre o destino de recursos para investimento social. O aumento foi de 8 pontos percentuais de 2020 para 2022, chegando a 37%. Para a coordenadora do Censo e da área de Conhecimento do GIFE, Patrícia Kunrath essa combinação de resultados sobre os decisores do ISP é um sinal de alerta.

“É importante ter as lideranças envolvidas sim, mas não podemos esquecer que a decisão não pode ficar restrita às mesmas pessoas. O GIFE acredita que conselhos mais diversos e plurais são desejáveis para um processo de descolonização da filantropia. Vale lembrar que temos questões estruturais de racismo, machismo e desigualdades, então é importante que esses espaços de decisão sejam repensados”, destaca.

Nas mãos de poucas empresas

O censo também mostrou que mais de 70% do volume investido em 2022 veio de apenas 20 organizações, cujo investimento anual é superior a R$ 50 milhões. O dado aponta mais uma vez para a concentração dos investimentos em poucos decisores e alerta sobre a necessidade da participação de outras empresas – de pequeno e médio porte – no ISP.

Segundo Patrícia, há uma série de barreiras e entraves que ainda impedem essa participação entre empresas menores. Desde questões culturais de relação com o dinheiro, passando por aspectos históricos como matriz religiosa e forma de colonização, até questões legislativas. “Não temos grandes incentivos na nossa legislação e ainda vivemos uma lógica de centralidade do governo no auxílio social. Ainda é forte a ideia de que ‘já se paga em impostos’ e nem sempre as empresas e os indivíduos se veem como corresponsáveis pelas questões sociais”, diz.

Outro dado relevante da pesquisa é o direcionamento dos recursos. Do total de R$4,8 bilhões investidos em ISP em 2022 (por empresas, institutos, independentes e familiares), R$2,1 bilhões foram direcionados à execução de projetos próprios dos investidores. Um total de R$ 1,8 bilhão foi repassado a terceiros, como por exemplo organizações sociais que atuam nos territórios. 

Patrícia destaca que essa característica de execução de projetos próprios é bem específica do ISP no Brasil. E a justificativa normalmente está ligada a uma decisão de alinhamento aos negócios, à atuação nos territórios onde as indústrias têm planta, à preocupação de relacionamento com a comunidade no entorno. E isso leva – mais uma vez – a uma doação mais concentrada em ações específicas.

A coordenadora da pesquisa pondera que as empresas são o perfil que mais repassa para terceiros, até por uma questão de ausência de equipe para gerenciar os projetos. Mas, ainda assim, ela frisa a importância de um ISP com maior distribuição de recursos.

“É importante lembrar que já existem muitas soluções pensadas pelas pessoas nos seus próprios territórios. No GIFE acreditamos na qualificação no repasse desses recursos. Temos olhado bastante para projetos orientados pela filantropia da confiança, que implica em relacionamento de longo prazo, mas é um movimento crescente nos institutos familiares e empresariais. Também podemos pensar na filantropia colaborativa, em que organizações se reúnem para fazer um aporte conjunto e financiar terceiros”, afirma.

Texto: Thaíne Belissa

 

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