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Greenjobs: as mudanças e oportunidades na carreira em sustentabilidade no Brasil

14/04/2023

Cada vez mais transversal às áreas de atuação, a carreira em sustentabilidade passou por uma grande transformação nos últimos anos. Na medida em que os negócios entendiam seu compromisso social e com o meio ambiente, também começaram a demandar talentos que os apoiassem nessa mudança de postura. Em pouco tempo, os empregos na área de sustentabilidade ganharam uma demanda absurda e também a atenção da nova geração, que vislumbra um futuro do trabalho mais verde do que nunca.

De acordo com o estudo “Os jovens buscam a economia verde”, publicado pela Accenture no final do ano passado, 88% dos jovens brasileiros entre 15 e 39 anos disseram aspirar a um emprego na economia verde nos próximos 10 anos. A pesquisa também cita uma publicação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (IDB), que aponta que até 2030, 22,5 milhões de oportunidades de emprego estarão disponíveis na agricultura e produção de alimentos, eletricidade renovável, produtos florestais, construção e manufatura.

Mas, muito diferente do que se entendia por empregos ambientais e sociais há poucas décadas, essas oportunidades são para um novo perfil de profissional, ligado principalmente à noção do Environmental, social, and corporate governance (ESG), conforme explica Fernanda Nogueira, sócia da Tailor, consultoria de caça talentos localizada em Belo Horizonte e São Paulo. Focada principalmente na contratação de executivos, a empresa precisou se adaptar para atender à nova demanda das organizações.

“Sempre tivemos áreas focadas em meio ambiente, segurança e saúde, mas tivemos que ampliá-las por conta da demanda e também modificá-las, trazendo os conceitos de social, governança e sustentabilidade”, afirma. Na área de meio ambiente, por exemplo, se antes o foco estava principalmente nas carreiras ligadas ao tema da água e da estrutura geotécnica, agora também precisam incluir mais conhecimento em mudança climática e emissão de CO2. Já no social, não basta mais falar em “relação com a comunidade”, segundo Fernanda. Agora, é preciso ter conhecimento e atuação em direitos humanos.

“Hoje a demanda de executivos na área de sustentabilidade vem principalmente de grandes empresas que estão preocupadas com a divulgação de resultados para os stakeholders. Mas isso vai ampliar. Acredito que em pouco tempo qualquer empresa que não se preocupa com o social, o meio ambiente, a governança e as pessoas não vai atrair mais nenhum tipo de investimento. O avanço nessa área está totalmente atrelado ao desempenho e resultado dos negócios”, afirma Fernanda.

 

Formação de executivos

 

E se a forma de “caçar os talentos” na área de sustentabilidade mudou, a formação desses profissionais também precisou de adaptações. Foi o que aconteceu, por exemplo, numa das maiores escolas de formação de líderes do Brasil, a Fundação Dom Cabral. De acordo com Heiko Spitzeck, que é Gerente do Núcleo de Sustentabilidade da FDC, o Executive MBA da escola passou por várias reformas nos últimos anos, justamente para se adaptar ao novo conceito de sustentabilidade no ambiente corporativo.

Segundo ele, muito mais que uma disciplina sobre o tema, a formação na FDC passou a integrar a sustentabilidade em todo o seu currículo. “A abordagem é transversal às disciplinas. Estamos preocupados em educar líderes responsáveis que constroem confiança com vários públicos alvos e não apenas acionistas. Formamos líderes explicando porque sustentabilidade é importante para o negócio e que não é coisa de ‘bicho-grilo’, mas de diretor financeiro da empresa”, destaca.

O professor afirma que a formação desses líderes precisou mudar justamente porque o mercado também transformou sua visão sobre o tema. Segundo ele, a carreira em sustentabilidade já passou por fases muito distintas, começando pela ideia de contratar o que o mercado chamava de “onguistas”. “Era a ideia do ‘vamos contratar os que nos criticam’, que eram os profissionais de ONGs. Mas não deu certo porque eles tinham dificuldade de entender a parte do negócio”, diz.

Logo o mercado passou para uma nova lógica de contratação dos gerentes de sustentabilidade com o olhar voltado principalmente para os riscos socioambientais. Heiko explica que essa ainda é a perspectiva dominante no mercado, que está mais preocupado com os riscos reputacionais e financeiros de não se adotar uma política de sustentabilidade.

Para o professor, o mercado já caminha para uma nova fase que é ir além da noção de gestão de risco e passar a olhar para a inovação e para as oportunidades. “Estamos falando agora de uma liderança que tem um apetite de se destacar nesse tema e de usá-lo como diferencial competitivo. É nessa nova fase que entra o intraempreendedorismo dos executivos de sustentabilidade. As empresas vão começar a pensar como apoiar esses talentos para que eles pensem em novos produtos e soluções sustentáveis. Elas precisarão fazer isso porque o futuro está aí, o resto é só gestão de risco e todo mundo já faz”, frisa.

Texto: Thaíne Belissa

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