Por Thaíne Belissa
A ideia de produzir carteiras leves a partir de um produto que parece papel surgiu em 2013 como um projeto de faculdade de Guilherme Massena, em Monte Negro, no Rio Grande do Sul. Mas não demorou para o projeto de escola se tornar negócio: em 2016, a ideia ganhou sócios e colaboradores. Nascia a Dobra e os primeiros desenhos do seu produto: uma carteira bem diferente.
Feita a partir do tyvek, uma fibra sintética 100% reciclável, ela é leve como papel, mas resistente como o plástico. Além disso, as estampas são criadas de forma colaborativa com artistas independentes que ganham comissão sobre as vendas. Depois das carteiras ainda vieram muitos produtos e, hoje, a Dobra vende cases de notebook, porta-moedas, cachepots e até luminárias no Brasil todo e nos Estados Unidos.
O fundador lembra que, desde o início, a Dobra se diferenciava não apenas pelo produto inusitado, mas por sua lógica de operação voltada para a redução de impactos negativos no meio ambiente; fortalecimento do empreendedorismo; valorização de mão de obra local com remunerações acima do mercado e ações de incentivo à doação.
“Entendemos que a empresa tem um papel importante como vetor de mudança na sociedade. Então, o impacto social positivo que a gente traz não está restrito a um projeto, mas alinhado à lógica da nossa operação. E esse é um exercício importante para as empresas: precisamos pensar o que podemos fazer para causar impacto positivo para além de gerar emprego e pagar imposto, que é o básico”, afirma Guilherme Massena.
“Deixar o mundo mais aberto” é um dos propósitos da marca, que faz isso de duas formas. A primeira é trazendo para a criação dos produtos artistas independentes, que ganham parte do lucro das vendas: são mais de 500 artistas envolvidos na plataforma da Dobra.
A segunda forma é abrindo o molde da carteira, o principal produto da empresa. Com isso, a Dobra já ajudou outros empreendedores e instituições, como o Projeto Identidade, em Recife, que usa o molde para fazer e vender carteiras e bancar um projeto de alfabetização de jovens, adultos e idosos.
O fundador também ressalta a preocupação da marca com a valorização da mão de obra local, que participa do processo de produção da Dobra. “Hoje, nossa fábrica imprime e corta o material, mas a costura, a dobra e a cola é terceirizada para artesãos que recebem até cinco vezes mais do que o mercado geralmente paga por esse trabalho”, afirma.
Impacto social e ambiental
A Dobra também desenvolve alguns projetos de incentivo à doação. O Black Friday da marca funciona de uma maneira diferente: só ganha os descontos o cliente que faz uma doação para uma instituição de auxílio social. Na época da campanha, a empresa faz sugestões de organizações beneficentes e só libera o desconto para quem comprova que fez uma doação, independente do valor.
“Em 7 anos de empresa já foram mais de R$ 260 mil direcionados a projetos sociais por meio da campanha da Black Friday da Dobra. Essa é uma ação que deixa um legado, pois muitos clientes comentam que tinham vontade de doar, mas não sabiam como. Muitos viram doadores assíduos depois”, comenta Guilherme.
Até 2020 a empresa também fez uma campanha interna de doação em que R$1 era doado a cada venda realizada. Com isso, a Dobra conseguiu realizar duas ações: a reforma do pátio da maior escola pública de Monte Negro e a capacitação de mais de 60 profissionais para lidar com o tema do abuso sexual infantil.
Na área ambiental, a empresa também dá sua contribuição por meio da reutilização do material dos seus próprios produtos. A Dobra oferece um desconto de 20% na compra de novos itens aos clientes que devolverem as carteiras e outros produtos usados e que iriam para o lixo. Até hoje já foram 9 mil itens devolvidos e reciclados.
Além disso, a empresa produz 100% da energia gasta em sua produção por meio de placas solares e 100% de sua água não potável é reutilizável.