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Empresas com mais mulheres na alta liderança têm melhor desempenho em sustentabilidade

23/06/2023

Empresas com maior diversidade de gênero em cargos de alta liderança apresentam melhores resultados em ações de Environmental, Social and Governance (ESG). É o que aponta a pesquisa “Agenda ESG, Substantivo Feminino: a relação entre presença de mulheres na alta liderança e sustentabilidade nas empresas”, realizada por Monique de Oliveira Cardoso e apresentada em 2021 à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, no mestrado em Gestão para a Competitividade.

O estudo levou em consideração dados quantitativos e qualitativos de 98 empresas brasileiras de capital aberto, considerando tanto a presença quanto a ausência de mulheres na diretoria e no conselho dessas organizações. O principal achado da pesquisa foi que o desempenho das empresas com mulheres na alta administração é melhor que o daquelas sem mulheres nos aspectos ambiental e social. Já no quesito governança, o desempenho das organizações mais ou menos diversas é equivalente.

O levantamento mostrou que, de um total de 98 organizações, 52 foram classificadas como Baixo ESG e 46 como Alto ESG. No grupo com alta pontuação ESG, verificou-se a presença de diretoras em 52% das companhias, contra 48% encontradas no grupo de baixa pontuação ESG. 

“Isso ressalta o indício de que o bom desempenho vem acompanhado de uma maior presença de mulheres líderes, e uma performance pior nos critérios socioambientais e da governança ocorre simultaneamente a uma maior ausência e/ou a uma baixa presença de mulheres na alta administração nas empresas e capital aberto”, afirma a mestre em Gestão para a Competitividade.

Análise qualitativa

A pesquisa ainda incluiu uma fase qualitativa, que contou com 14 executivas ouvidas em conversas com duração entre 50 minutos e 110 minutos. Nas empresas com melhor taxa ESG, as mulheres da alta liderança identificaram em si qualidades que ajudam nesse bom desempenho das organizações. 

Entre essas qualidades estão: liderança democrática e aberta ao diálogo; alto nível de exigência; resiliência e capacidade de ser flexível e mudar modelo mental. “Isso se alinha bem com uma gestão orientada à sustentabilidade e que considera interesses de múltiplos stakeholders, característica das empresas de melhor performance socioambiental”, lembra a autora.

De maneira geral, as líderes mulheres também apontaram em si características de comprometimento com a própria carreira, o que também estaria associado ao resultado da empresa. Segundo a pesquisa, elas “valorizam o constante auto posicionamento, mesmo contrariando expectativas sobre elas, e a necessidade de estar sempre aprendendo e se aprimorando, mesmo já tendo chegado no topo da carreira, uma vez que mulher enfrenta mais dificuldades e precisa empreender mais esforços que os homens na gestão”.

Na análise específica do desempenho de ações relativas ao “s” do ESG, o social, as executivas trouxeram em suas narrativas uma preocupação maior com a questão da diversidade. Segundo a pesquisa, elas se colocam no papel de fazer avançar essa agenda nas organizações onde atuam.

“Elas entendem que a composição majoritária da liderança, formada por homens brancos, não olha da mesma forma para os temas da equidade, pois eles não vivem essas questões. As entrevistadas reconhecem que a posição que ocupam não está conquistada para mulheres em geral, e que estando em menor número nas esferas da alta administração, sua tarefa é maior”, analisa Monique.

A pesquisa da Fundação Getúlio Vargas traz uma contribuição relevante para os estudos sobre o tema no Brasil. Isso porque, embora a relação entre gênero e desempenho em sustentabilidade nas organizações seja um tema amplamente estudado no exterior, no Brasil ainda não há muita pesquisa com esse foco. A relevância também está na aplicação prática para as empresas, conforme a própria autora aponta:

“Considerando que empresas bem avaliadas em ESG são as que apresentam menor risco para fatores não-financeiros, este estudo acrescenta um novo olhar sobre mulheres na liderança e reforça o argumento de que uma gestão diversa em gênero e conhecedora dos aspectos ESG é positiva para companhias”.

Texto: Thaíne Belissa

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